segunda-feira, 31 de março de 2014

Ainda a questão da mobilidade urbana

Não faz muito tempo que eu escrevi aqui no Panorama R sobre a questão da mobilidade urbana, com foco especialmente no transporte público do Distrito Federal. Pois bem, hoje me deparo com a notícia de que serão construídas duas pistas expressas que ligarão o Balão do Torto ao Balão do Colorado, no caminho para Sobradinho. A promessa é de acabar com os engarrafamentos nos locais - ou, nas palavras do Governador Agnelo Queiroz, "mudar a história da mobilidade urbana no DF".

Há poucos dias, vi uma metáfora que expressa exatamente a situação da forma como a questão da mobilidade urbana vem sendo tratada no Brasil todo, em especial em Brasília: "Combater congestionamentos alargando vias é como combater a obesidade afrouxando o cinto". A mensagem é clara. Alargar as pistas pode trazer um alívio temporário, mas, se a causa do problema não for combatida, em pouco tempo será preciso alargar novamente as pistas. Traduzindo: a solução definitiva do problema do trânsito passa necessariamente pelo investimento em transporte público.

Sabemos que simplesmente não há metrô para a parte norte do Distrito Federal. Moradores da Asa Norte, Sobradinho e Planaltina, além do Paranoá, não têm esse meio de transporte à sua disposição. E as linhas de ônibus que fazem esse percurso são extremamente deficientes. É muito difícil fazer o percurso Sobradinho-Plano Piloto ou vice-versa usando os meios públicos. Assim, só resta aos moradores usar o automóvel próprio. Assim, os engarrafamentos são inevitáveis.

Somente com o investimento adequado em transporte público o problema dos congestionamentos será resolvido. É necessário construir mais linhas de Metrô, e criar novas linhas de ônibus e aumentar a frota nas linhas já existentes, com ônibus em bom estado de conservação. E também investir na construção de ciclovias por todo o Distrito Federal. É caro fazer Metrô? Certamente é, mas é melhor andar a passos lentos do que simplesmente não investir nada na construção de novas linhas, como vem acontecendo. Construir novas pistas é apenas um paliativo, e, no longo prazo (talvez até antes), as novas pistas também estarão congestionadas.

Já passou da hora de os administradores de Brasília e das diversas cidades brasileiras mudarem o foco dos investimentos em mobilidade urbana, e entenderem que esse foco deve ser o transporte público. Do contrário, não há solução para o caos urbano.

sábado, 29 de março de 2014

Doze anos de escravidão

Já faz quase um mês que foi realizada a entrega do Oscar, mas eu ainda não havia visto o excelente "Doze anos de escravidão", que acabou, inclusive, ganhando a estatueta. Tirei esse atraso na noite de ontem, sexta-feira.

Excelente filme, com grandes atuações. Um retrato fiel de um tempo que nunca deveria ter acontecido, mas que, uma vez que foi uma triste realidade, é necessário manter a memória viva para que não cometamos os mesmos erros do passado. É impressionante como podem ter existido pessoas tão sem escrúpulos, a ponto de tirarem a liberdade de seres humanos e os obrigarem a trabalhar para eles. Mais triste ainda é pensar que essa realidade, embora ilegal, ainda exista em diversas partes do planeta.

O filme não é recomendado para pessoas sensíveis, pois tem cenas fortes. Mas é excelente, e vale a pena ir ao cinema para ver essa grande produção.

Brasiliense 0x3 Brasília - emoção (também) na Capital

Na última quarta-feira, estive no Estádio Serejão, em Taguatinga. Nesse estádio, Brasiliense e Brasília se enfrentaram pelas semifinais da Copa Verde - torneio organizado pela CBF, que reúne clubes do Norte, do Centro-Oeste e do Espírito Santo. Uma tarefa difícil para o Colorado, que é um dos clubes mais tradicionais de Brasília, mas que não ganha um título desde 1987. O Brasiliense havia ganho o primeiro jogo por 2 a 0, no Bezerrão - com mando de campo do Brasília - e era necessário vencer por pelo menos três gols de diferença, coisa que o Brasília nunca havia conseguido em jogos contra o Jacaré.

Um bom futebol no primeiro tempo, e a vantagem por 1 a 0, pareciam indicar que ainda havia muito por jogar, e a classificação colorada não era impossível. Aí veio o segundo tempo. O Colorado demorou 30 minutos para marcar o 2 a 0, resultado que levaria o jogo para os pênaltis. E esse parecia o destino do jogo quando, perto do final, o Brasília marcou o terceiro, fazendo explodir a parte do estádio que havia ido torcer pelo Brasília - da qual eu fiz parte. Àquela altura, mesmo que o Brasiliense marcasse um gol, o Brasília estaria classificado, porque havia marcado três gols fora de casa, contra dois do adversário. Mas o jogo terminou mesmo com a vitória do Brasília por 3 a 0, e a classificação para a final.

Foi o tipo de jogo para desmentir de vez a história de que os jogos entre clubes de Brasília não têm emoção, um verdadeiro "tapa na cara" de quem acredita que só existe futebol nos grandes clubes. A partida pode não ter sido um primor de técnica, mas certamente não faltou emoção para quem esteve lá. Vaga assegurada na final, o Brasília enfrentará o Paysandu. A primeira partida será em Belém; a segunda, em Brasília - e cogita-se usar o Mané Garrincha para a realização desse jogo. Seja onde for, quem sai fortalecido é o futebol de Brasília, tão mal administrado e ignorado por imprensa e cidadãos locais.

Consternação

Consternação. É a única palavra que me vem à mente ao tomar conhecimento da pesquisa, que vem sendo amplamente divulgada pela imprensa e pelas redes sociais, que afirma que 65% das pessoas pesquisadas acreditam que as vítimas de estupro são culpadas pela barbárie sofrida.

Não vi detalhes sobre a pesquisa, mas prefiro acreditar que esse número se deve a alguma falha metodológica, ou a algum grupo de pessoas que tenha tentado, em tom de brincadeira, mudar o resultado da pesquisa - ou, como se diz na gíria, trollar a pesquisa. Não dá para entender como tantas pessoas tenham um pensamento tão pequeno, e não só acreditem que os estupros acontecem porque as vítimas provocam os estupradores, como dizem isso abertamente. Eu entenderia que, se entrássemos na mente das pessoas para descobrir a verdade, talvez tivéssemos um número parecido de pessoas que têm essa opinião, mas ver que tanta gente diz isso abertamente chega a ser até mesmo constrangedor.

Nenhuma vítima de crime deve ser considerada culpada pelo crime. Assim, quando alguém é assaltado, não deve ser considerado culpado porque "estava andando naquela rua escura naquela hora" ou porque "estava namorando no carro". Quem sofre um golpe não deve ser culpado porque "confiou naquele pilantra". Da mesma forma, a vítima de estupro não deve ser considerada culpada porque "estava usando uma roupa provocante", ou algo do tipo. Nada, absolutamente nada, justifica a ação de nenhum criminoso.

Às vezes, parece não haver mais esperanças de que a mentalidade das pessoas mude. Até quando?

quarta-feira, 26 de março de 2014

Porto de Mariel: ouvindo o outro lado - e o contraditando

A notícia de que o governo brasileiro estaria investindo na construção de um porto em Cuba causou muito barulho por aqui. As críticas vieram de todos os lados: por que o governo brasileiro estaria investindo em um porto em outo país? Isso seria correto? A respeito disso, encontrei essa matéria da revista Carta Capital: Por que o Brasil está certo ao investir em Cuba.

A matéria está correta em muitos aspectos, ao abordar as vantagens comerciais que tal investimento trará às empresas brasileiras, e ao próprio Brasil. Mas o fator mais importante não foi levado em conta: não seria melhor para as empresas brasileiras se, antes de elas se beneficiarem de um porto em um País estrangeiro, pudessem se beneficiar de boas estradas, uma boa infraestrutura portuária e aeroportuária, ferrovias - para transporte de cargas e de passageiros - aqui no Brasil mesmo? A meu ver, as empresas e a população brasileiras seriam muito mais beneficiadas se fosse implementada essa infraestrutura aqui no Brasil mesmo. Não há sentido em investir em obras fora do País enquanto os portos e aeroportos, as estradas e ferrovias do Brasil estiverem em péssimas condições, travando o crescimento do País.

Sou um defensor da integração entre os povos, entre os diversos Países. Mas entendo que qualquer Governo deve ter como principal objetivo o bem-estar do povo governado. Deve-se, sim, garantir a integração internacional e a boa convivência com os Estados estrangeiros, mas nunca deixar a própria população em segundo plano. Também refuto as alegações ideológicas usadas para atacar o investimento em Cuba - ou seja, o discurso de que "Cuba é comunista, então não devemos investir lá". Só acho inaceitável que, com tantos problemas por resolver no País, se priorizem investimentos em outros países que trazem menos vantagens do que trariam investimentos feitos aqui, enquanto estes últimos sejam necessários.

Enfim, espero que o Governo brasileiro (e aqui não estou fazendo nenhuma consideração de natureza partidária, me refiro a qualquer pessoa que exerça a Presidência da República) reveja suas prioridades, e que os investimentos em infraestrutura em outros Países somente sejam feitos quando houver dinheiro para fazê-los sem descuidar dos problemas internos.

terça-feira, 25 de março de 2014

Basquete no Brasil: NBB ou VBB?

No último post, falei que acabei indo ver "Elis, a musical" porque o programa que eu ia fazer em São Paulo foi cancelado. Assim, vou detalhar agora do que se tratou esse cancelamento.

O meu programa na capital paulista era ver o jogo de basquete entre Palmeiras e Minas, pelo Campeonato Brasileiro, que agora tem o nome pomposo de NBB (Novo Basquete Brasil). O jogo estava marcado para as 18 horas do último sábado, e eu comprei as passagens e reservei o hotel com onze dias de antecedência. Dois dias antes da viagem, entrei no site da Liga de Basquete só para confirmar o horário do jogo, e, para minha surpresa, a partida havia sido adiada. Não sei quando exatamente se deu o adiamento, mas certamente foi nos onze dias que antecederam a data original, e eu não vi em nenhum lugar a notícia do adiamento, nem a justificativa para o mesmo. Simplesmente a tabela mostrava a nova data.

Entendo que imprevistos existem, e nenhum evento tem 100% de confirmação para o horário marcado. Mas não me parece o caso de ter havido algum imprevisto. A Liga simplesmente adiou o jogo de forma aleatória, me deixando com uma passagem e uma reserva de hotel na mão, sem saber o que fazer com elas. Será que esse é o jeito correto de administrar, e popularizar, não só o basquete, mas qualquer evento? Há alguns anos, estive nos Estados Unidos e fui ver um jogo entre New York Knicks e Chicago Bulls. Vários meses antes, eu já sabia o dia e horário exatos em que a partida seria realizada, e comprei meu ingresso com quatro meses de antecedência. Não houve nenhuma alteração, e, se houvesse, seria por um motivo de força maior realmente justo - como um atentado terrorista, e não simplesmente a vontade de algum gestor. E aqui, não se trata de "país rico" e "país pobre", é só uma questão de organização, e, acima de tudo, de respeito ao consumidor - ou ao torcedor, no caso de eventos esportivos.

Isso leva à pergunta que coloquei no post. Quando a Liga Nacional de Basquete foi formada, e rebatizou o campeonato brasileiro de NBB (Novo Basquete Brasil), a promessa era de modernizar o esporte e sua gestão no país. Passados vários anos, parece que nada mudou. Não seria o caso de rebatizarmos o campeonato como VBB (Velho Basquete Brasil)?

Um pequeno adendo: com que direito a Liga resolveu "zerar" a história do basquete desde a sua criação? Todas as estatísticas que eles publicam (na Internet, nas redes sociais, etc.) contam apenas eventos posteriores à sua criação. Por exemplo, "Minas e São José se enfrentaram x vezes no NBB, com y vitórias do Minas e z vitórias do São José". Por que o passado do basquete ficou esquecido?

Elis, a musical - vale muito a pena ver


Foto retirada do site do Teatro Alfa. Caso você não possa ver a imagem, é porque ela foi retirada pelos administradores do site.

Estive na capital paulista no último fim de semana. Uma vez que o meu programa na cidade foi cancelado - tratarei disso em outro post - fui conferir a agenda cultural da cidade. Aí, lembrei que estava sendo apresentado o espetáculo "Elis, a musical", que, como o nome diz, com a troca proposital do artigo, se trata de um musical que conta a história da vida da Elis Regina. Por um milagre, dois dias antes da apresentação, consegui comprar o único lugar ainda disponível no Teatro Alfa. Com o ingresso na mão (retirado em Brasília mesmo, na sexta-feira), fui para o teatro.

A palavra "espetacular" talvez não seja suficiente para descrever o que foi a apresentação. Durante as pouco mais de três horas que durou a apresentação (com um providencial intervalo de quinze minutos), tive a sensação de realmente estar vendo Elis Regina interpretando as canções que a levaram ao sucesso, ao lado de outros artistas renomados, como Tom Jobim e Jair Rodrigues. Mas nenhum desses estava lá. No papel de Elis Regina, estava a esplêndida Laila Garin. Ao ouvi-la cantar, era impossível não achar que se estava realmente diante da cantora gaúcha. Os pontos altos foram as interpretações com Jair Rodrigues no programa "No fino da bossa" e com Tom Jobim em Águas de março. Praticamente idênticas às versões originais.

Todo o musical, porém, é memorável, desde a adolescência da cantora em Porto Alegre até o sucesso e os espetáculos que Elis organizou, como Transversal do tempo e Falso brilhante. Uma obra-prima, que merece ser vista.

Mais informações sobre a peça podem ser obtidas no site do teatro, aqui. Os ingressos são vendidos no site do Ingresso Rápido, aqui. Totalmente recomendado.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Do transporte público em Brasília

Já faz algum tempo que eu venho planejando escrever sobre a questão do transporte público em Brasília (do qual sou um frequente usuário). Hoje, porém, o Correio Braziliense divulgou uma matéria que fornece importante subsídio.

Na matéria, que estampa a primeira página do caderno Cidades da edição de hoje (14 de março), se diz que 1,59 bilhão de reais serão repassados pelo Governo Federal, por meio do seu famoso Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para investimentos diversos no transporte público da Capital Federal. Entre as obras, estão o Expresso DF Norte, que ligará a Rodoviária do Plano Piloto a Sobradinho e Planaltina, a aquisição de trens do VLT para ligar o Plano Piloto ao aeroporto (sim, aquela mesmíssima obra que há anos vem infernizando a vida dos motoristas que passam pelo Setor Policial Sul), aquisição de novos trens para o Metrô, abertura das estações da Asa Sul ainda não operacionais, e elaboração dos projetos básicos e executivo para expansão do Metrô para a Asa Norte, entre outras obras.

Como cidadão e como usuário do transporte público, espero que tais obras saiam do papel e, em pouco tempo, estejam servindo à população (a matéria não fala do prazo de conclusão das obras, embora seja difícil acreditar que as mesmas se concluam na atual gestão, que se encerra em alguns meses). No entanto, dando uma navegada por notícias antigas, encontrei esta aqui, do Correio Braziliense de 13 de julho de 2012 (!!!!). Transcrevendo:

Uma reclamação antiga de moradores de Ceilândia, Samambaia e dos trabalhadores de Brasília deve ser solucionada até o fim de 2015, com a construção de mais cinco estações de metrô — duas em cada cidade e a primeira da Asa Norte. Nesta semana, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) homologou o resultado da licitação que contratou a empresa responsável por elaborar os projetos básicos e executivos das futuras paradas. Esta primeira fase custará ao Metrô-DF R$ 17 milhões. A expectativa é de que as estações estejam prontas em três anos. O custo global da obra está calculado em R$ 217 milhões.

O processo de elaboração dos projetos de engenharia e arquitetura das estações pode durar até 18 meses, mas a ideia é ter os desenhos das plantas prontos até o início do ano que vem. Em seguida, será aberto certame para contratar a construtora. A expansão atenderá às populações do Setor O, em Ceilândia, onde serão construídas as estações 28 e 29. Em Samambaia, as duas novas paradas, a 34 e 35, beneficiará as áreas mais isoladas da cidade. Por fim, o Plano Piloto também ganhará um ponto na Galeria do Trabalhador, no Setor Comercial Norte. No total, a malha metroviária do DF terá uma expansão de 7,5km.

Bom, vamos lá. Em primeiro lugar, devo dizer que li esta matéria há alguns dias, portanto não tinha conhecimento da matéria de hoje do mesmo jornal. A matéria afirma que a obra de expansão do Metrô para a Asa Norte estará concluída em 2015. Tendo em vista que não existe nenhum movimento de obras nos locais que devem abrigar as novas estações, não é difícil adivinhar que as obras não estarão prontas até o final de 2015. Porém, a situação ficou mais grave quando li a matéria de hoje. Segundo essa matéria (repito, de hoje), serão destinados 77 milhões de reias para a elaboração dos projetos básico e executivo da expansão do Metrô para a Asa Norte. Pois bem, vamos reler a matéria de 2012:

Nesta semana, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) homologou o resultado da licitação que contratou a empresa responsável por elaborar os projetos básicos e executivos das futuras paradas.

Lá se vão dois anos que o resultado da licitação foi homologado. Então, por que só agora os projetos serão elaborados? E ao custo de mais 77 milhões de reais? Haverá uma nova licitação, ou a empresa vencedora do certame há dois anos é quem vai elaborar esses projetos? Perguntas que seguem sem resposta. E os cidadãos brasilienses seguem sem um transporte público de qualidade. Até quando?

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Dito isso, um adendo se faz necessário: como eu citei anteriormente, o valor destinado às obras de melhoria do transporte público (sem data prevista para a conclusão, lembremos) é de 1,59 bilhão de reais. Por outro lado, a reforma do Mané Garrincha custou algo em torno de 1,7 bilhão de reais. E ainda haverá mais despesas por conta de pequenas reformas futuras. Isso em um momento em que o futebol de Brasília está em baixa, e leva pouco público aos estádios.

Pergunta: faz algum sentido investir menos em um sistema de transportes que servirá a população por anos, ajudando a melhorar o caótico trânsito da Capital Federal, do que em um estádio que, a partir do dia 13 de julho de 2014, não servirá para nada?

quinta-feira, 6 de março de 2014

Telefonia de qualidade X Superávit primário

Hoje de manhã, leio a Folha de São Paulo e, já na primeira página, bato o olho em uma notícia: o Governo estuda a hipótese de, no leilão destinado à concessão de serviços de telefonia e internet móveis, previsto para agosto, aumentar o valor mínimo a cobrar das operadoras. Em contrapartida, acabar com, ou no mínimo reduzir, as metas de cobertura. Na prática, desobrigar as operadoras a oferecer seus serviços em cidades menores, ou com população de mais baixa renda. O objetivo disso? Alcançar as metas de superávit primário.

Confesso que não entendo de telefonia, do ponto de vista técnico. Termos como "blocos", "frequências", e outros usados na matéria da Folha, são obscuros para mim. Mas considero inaceitável que alcançar as tais metas de superávit primário seja mais importante do que fazer aquilo que é, ou deve ser, o principal objetivo de qualquer Governo: oferecer serviços de qualidade ao povo por ele governado.

O Governo atual vem se orgulhando aos quatro ventos de toda a inclusão social que, segundo ele, vem promovendo. Será que limitar a área onde será oferecido um serviço de telefonia de qualidade é uma boa forma de promover inclusão social? A meu ver, não. Não defendo a moratória ou o não pagamento da dívida pública - pelo contrário, sou totalmente contra isso -, mas a prioridade é o povo. Não acredito que seja inteligente fazer esse tipo de corte para promover o alcance do superávit primário.

Em anos passados, foi amplamente divulgado na imprensa que o Governo cortou gastos na saúde e na educação para atingir as metas de superávit primário. Vários serviços de infraestrutura, como acontece nesse caso da telefonia, já foram atingidos pelas "economias" governamentais (é só ver que pouquíssimas das obras que compunham o tal "legado da Copa" ficarão prontas a tempo). Porém, a falta de visão de futuro não faz o governo ver que, no futuro, esses investimentos que não foram feitos poderiam até mesmo aumentar a arrecadação pública - sem que fosse necessário aumentar os impostos.

Para quem quiser ler a matéria da Folha, pode clicar aqui.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Brasileirão com 32 clubes: por que não?

Por muitos anos, defendi o Brasileirão em dois turnos, com pontos corridos. Porém, ultimamente, venho questionando essa fórmula. Algo importante não vem sendo levado em consideração, e é isso que eu vou colocar aqui. Como sempre, a ideia é abrir o debate, e não apresentar uma verdade definitiva.

Vejamos. O sistema de pontos corridos, com algo entre 18 e 22 clubes, faz sucesso na Europa. Porém, o Velho Continente é composto de países muito menores, em termos de área física, do que o Brasil. Na maioria dos campeonatos, são duas ou três equipes brigando pelo título, outras tantas correndo por fora e beliscando uma taça de vez em quando, e só.

Aqui no Brasil, o campeonato nacional conta atualmente com 20 clubes, assim como a maioria dos torneios da Europa. No entanto, por aqui, temos 12 clubes que são indiscutivelmente considerados grandes: Grêmio/Inter, Cruzeiro/Atlético, Corinthians/Palmeiras/São Paulo/Santos e Flamengo/Fluminense/Botafogo/Vasco. Considerando-se que nenhuma dessas equipes tenha sido rebaixada, restam oito vagas na Série A. Porém, existem vários clubes médio-grandes no País, que têm grandes torcidas em suas cidades, levando grandes públicos a seus jogos, e por vezes fazem boas campanhas e até brigam pelo título. Nesse grupo, temos Coritiba, Atlético Paranaense, Bahia, Vitória, Santa Cruz, Sport, Náutico, Ceará, Fortaleza, Goiás, e poderíamos ainda incluir nele clubes como os paraenses Remo e Paysandu, e o goiano Vila Nova, que andam longe dos tempos áureos, mas que têm torcidas numerosas e fiéis. Fica claro que um campeonato com 20 clubes é insuficiente para abrigar todas essas equipes.

É bem verdade que a Série B hoje em dia é muito mais prestigiada do que era há 15 anos. Mas, sejamos honestos, é um pouco desmotivante disputar a série inferior. Claro que não há lugar para todos na elite, mas expandir a Primeira Divisão aumentaria a chance desses médio-grandes de estar na Série A, dando a eles uma motivação maior, de talvez no futuro, brigar por títulos. E, a bem da verdade, até clubes menores, de centros não tão fortes atualmente, poderiam crescer. Claro que, se algum clube médio-grande ou grande for rebaixado mesmo assim, que se cumpra o regulamento.

Infelizmente, o efeito colateral dessa fórmula seria o fim dos pontos corridos, e certos confrontos não se realizariam em todo o campeonato. Mas é um preço a se pagar. Como ideia, eu proporia uma divisão em dois grupos de 16 clubes, com os dois (ou três) primeiros se classificando para um quadrangular (ou hexagonal) final, e os dois últimos sendo rebaixados - ou os três últimos de cada grupo fazendo um hexagonal no qual os dois primeiros se salvam e os demais caem.

Naturalmente, não sou a favor que se faça isso já neste ano, ou no ano que vem - já que o regulamento deste ano, já aprovado, não contempla um aumento do número de clubes. Mas talvez já fosse possível implementar algo do tipo em 2016. O critério para definir os participantes seria acesso e descenso. Pessoalmente, sou contra a classificação pelos estaduais. Primeiro, porque acho que os estaduais, como são atualmente, deveriam acabar. Depois, porque dar uma vaga (ou mais) a todos os campeões estaduais diminui a motivação dos clubes menores para montar times fortes, pois, mesmo que percam todos os jogos, no ano seguinte estarão na Primeira Divisão caso vençam seus estaduais.

Fica aí a ideia, para os dirigentes da CBF, e para todos os fãs de futebol.

domingo, 2 de março de 2014

Qual é a reforma política necessária?

Muito se tem falado de reforma política. Eu concordo que o sistema atual possui algumas falhas importantes, especialmente no que diz respeito à distribuição das vagas nas eleições proporcionais, de modo que vou tentar analisar os problemas do cenário atual e propor alternativas.

Acho que não há nada a mudar no que tange as eleições majoritárias. O sistema atual, de eleições em dois turnos para os cargos do Executivo, e em um turno para o Senado, tem poucos reparos a serem feitos. O único ponto um pouco mais complicado é a questão da suplência do Senador, mas eu não vejo necessidade de fazer grandes reparos quanto a isso.

Quanto às eleições para deputados e vereadores, acho que o voto distrital é uma boa ideia, que precisa ser debatida. Por ora, porém, deixo duas mudanças importantíssimas que devem ser feitas no sistema proporcional, para melhorar a distribuição de vagas, tornando-a um retrato mais fiel do pensamento do povo.

1. O conceito de coligação para as eleições proporcionais deve ser extinto. A distribuição de vagas deve ser feita por partido, e não por coligação, como é atualmente. Essa mudança deixa o eleitor mais à vontade para escolher um candidato do partido de sua preferência, evitando que ele dê seu voto, involuntariamente, a um partido que não seja de seu agrado.

Pode acontecer, ainda, de um eleitor votar em um candidato "da oposição" e ajudar um candidato "da situação" a se reeleger, ou vice-versa. Por exemplo, imagine-se que dois partidos, PA e PB, têm os candidatos que brigam para se eleger Presidente (ou Governador, ou Prefeito, tanto faz). Aí, um partido menor, o PX, faz uma coligação com o PA. Com isso, o eleitor que vota em candidatos do PA (ou vota na legenda) ajuda também a aumentar o coeficiente partidário do bloco PA/PX, e, portanto, a eleger deputados do PX. Pois bem, imagine-se, agora, que o candidato do PB venceu as eleições presidenciais, e, depois, no Parlamento, o PX passou a fazer parte da base aliada do PB. Aí, o cidadão que votou na oposição ajudou a eleger um candidaro da base governista.

Alguns argumentariam que, se fosse assim, os partidos pequenos iam quebrar. Pessoalmente, eu acho que, se um partido não tem representatividade social suficiente para eleger um parlamentar, ele não deve estar representado no Parlamento. De toda forma, a próxima mudança que eu vou propor pode amenizar um pouco essa situação.

2. Na distribuição das "sobras", devem participar também os partidos que não atingiram o coeficiente eleitoral. Como se sabe, o coeficiente eleitoral é dado dividindo-se o número de votos de um partido ou coligação pelo número total de votos válidos, e multiplicando-se o resultado pelo número de vagas disponíveis no Parlamento. Esse resultado dá o número de deputados a que cada coligação tem direito. Depois disso, se sobrarem vagas, essas serão distribuídas de acordo com a parte fracionária do coeficiente eleitoral. Ocorre que, pela legislação atual (art. 109, § 2º, do Código Eleitoral), os partidos que tiveram coeficiente eleitoral infeior a 1 não participam dessa distribuição das "sobras". Incluir tais partidos na distribuição das sobras facilitaria o acesso dos partidos menores ao Parlamento, e ainda faria justiça, evitando que uma vaga fosse dada a um partido que passou longe de ter votos para fazer mais um parlamentar, enquanto outro que teve coeficiente eleitoral de, digamos, 0,99, ficasse de fora.

Já tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 2.737/2011, que busca fazer essa mudança, mas, infelizmente, tal projeto está há dois anos parado na Casa.

Dito isso, talvez outras mudanças possam ser feitas no sistema eleitoral em geral. Uma mudança que eu sugeriria seria fazer eleições bienais, sendo uma para os cargos do Executivo, e, dois anos depois, outra para os cargos do Legislativo. O sistema atual faz com que as eleições do Legislativo, que são as mais importantes, fiquem em segundo plano.

Essas são algumas ideias de alterações no sistema eleitoral. O debate é longo, mas é precido fazê-lo.

Sugestão de leitura


Nos últimos dias, tive a oportunidade de adquirir a preciosidade aí da foto: o livro "Come-Fogo: tradição e rivalidade no interior do Brasil", do autor Igor Ramos. Praticamente toda a história dos confrontos entre Comercial e Botafogo, em um dos levantamentos mais completos sobre esse clássico já feita. Tem fichas técnicas de todos os jogos, com direito a uma breve descrição do que aconteceu em cada um, imagens, curiosidades, estatísticas. Enfim, uma grande compilação da história desse clássico.

Em um país onde cada vez mais a história do futebol longe dos grandes centros (riquíssima, diga-se de passagem) é ignorada e a mídia cada vez mais só tem atenção para os grandes clubes, um levantamento desses tem muito a somar à cultura futebolística. Uma história que já teve muitos capítulos (o Campo de Terra já fez a cobertura de um desses capítulos, o que marcou o retorno desse clássico à Primeira Divisão paulista), e ainda terá muitos - o próximo deles será escrito sábado que vem. Uma chance de ouro de conhecer um pouco da verdadeira história do futebol.