quinta-feira, 26 de julho de 2007

Mais da crise aérea: culpa do Lula?

Vou inaugurar este humilde blog falando da crise aérea. Em outras palavras, sim, vou chover no molhado, vou falar de um tema sobre o qual toda a Imprensa já falou. Mas talvez seja necessário fazer uma tempestade para resolver um problema que já se estende há pouco menos de um ano. Dessa forma, vou jogar minhas gotinhas nessa tempestade.

Até que ponto Lula é culpado por tudo o que vem acontecendo? É difícil culpá-lo pela colisão do avião da Gol com o jato Legacy, que restituiu 174 almas ao mundo espiritual. Erro dos controladores? Erros do piloto do Legacy? Erro do piloto do Gol? Não se sabe. O que se sabe é que essa colisão foi a faisca que fez explodir o barril de pólvora que há décadas vinha se armando - e nem Lula nem seus antecessores fizeram algo para impedir que ele explodisse.

Lula não é culpado pelo acidente do avião da Gol, mas é culpado de não ter aberto os olhos para as condições precárias em que trabalhavam os controladores de vôo, e as conseqüentes reivindicações da categoria. Não estou defendendo a tese de que o Governo deve se curvar a todas as exigências de seus servidores, mas lidar com uma sobrecarga de trabalho, com a obsolescência dos equipamentos e com uma remuneração indigna certamente foi um peso que os controladores carregavam, e o governo não viu. Não tomou providências, sob o velho pretexto de que "não há dinheiro". Por isso, pagou o preço. Ou melhor, o povo pagou o preço, e ainda vem pagando em longas horas de espera nos aeroportos.

Lula é culpado também de se abster de aplicar uma lei que previa punições a militares que se amotinassem - e de, dos Estados Unidos, mandar uma ordem para que os controladores não fossem punidos. O recado aos controladores foi claro: "Podem fazer greve e motim à vontade, não vamos prendê-los". Depois voltou atrás, e prometeu realizar prisões caso houvesse novo motim, mas aí a primeira greve já tinha sido realizada, passageiros já haviam perdido horas preciosas de suas vidas e ficou por isso mesmo.

Lula é culpado, ainda, de nos três anos e nove meses transcorridos entre sua posse e o início da crise aérea, não ter investido nas obras da pista do aeroporto de Congonhas. A razão? A mesma de sempre: não há dinheiro. Enquanto isso, os banqueiros do FMI nadavam no dinheiro pago religiosamente pelo governo brasileiro, sem que um só centavo lhes fosse negado por falta de recursos. Aí, quando a crise se instalou e a obra se tornou urgente, finalmente a construção da nova pista foi iniciada - contratada sem licitação, é bom que se lembre - e, alguns dias depois, entregue à população. Mas, tendo sido construída às pressas, faltaram-lhe as ranhuras fundamentais para dar condições de pouso em épocas de chuva. Primeiro foi um avião de pequeno porte que derrapou, sem vítimas. Quanto ao que aconteceu no dia seguinte, nem é preciso dizer, os jornais do Brasil e do mundo disseram exaustivamente.

Finalmente, Lula é culpado de, nesse contexto todo, fazer o povo de palhaço, anunciando medidas inócuas a cada novo capítulo da crise e nomeando uma Ministra do Turismo que sugere ao povo "relaxar e gozar" e um Ministro da Fazenda que, revivendo a promessa do "espetáculo do crescimento", afirma categoricamente que a crise aérea é o preço que se paga pelo extraordinário crescimento econômico do país.

Não se trata aqui de fazer campanha política a favor nem contra ninguém, mesmo porque é difícil afirmar que o Brasil não estaria passando por essa situação se Serra, Alckmin, Cristovam ou Heloísa Helena ocupasse a Presidência. Mas isso não importa, o que importa é que Lula é quem está lá, e a ele cabe tomar reais providências visando a acabar com a crise, e não amenizá-la. Ele e sua equipe de governo devem trabalhar ao invés de fazer gestos obscenos ao descobrir que parte da culpa não lhes cabe.

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