quinta-feira, 10 de julho de 2014

O massacre aos clubes pequenos e o fiasco brasileiro na Copa

Acho que não é necessário tecer comentários adicionais sobre a derrota da seleção brasileira por 7 a 1 para a Alemanha. A história do jogo em si já é bem conhecida, todos já viram os gols do jogo e tudo o mais. E, naturalmente, já teve início a "caça às bruxas" que sempre sucede qualquer eliminação do Brasil de Copa do Mundo, ainda mais uma eliminação vergonhosa como foi essa. Fala-se em realizar congressos para debater os problemas do futebol brasileiro (agora?). Há, porém, um aspecto muito importante que pouco ou nada foi abordado nos últimos dias: o massacre que vem sendo feito contra os clubes pequenos.

Se voltarmos às cinco Copas que o Brasil ganhou, e até mesmo a seleções que não chegaram a vencer Copas do Mundo mas que tinham grandes jogadores em sua composição, veremos que vários jogadores dessas seleções iniciaram suas carreiras não na base de um grande clube, mas em um clube pequeno. Esses clubes podem até mesmo ter raramente brigado por alguma coisa além de fazer figuração nos campeonatos, mas sempre revelaram grandes jogadores, e vez ou outra beliscavam pontos dos grandes clubes.

No entanto, de uns tempos para cá, esses clubes vêm sendo massacrado de todos os lados: a mídia (jornais, TV, etc.) não dá nenhum espaço a eles - normalmente, quando o fazem, é para ridicularizar -, as federações e a CBF não se esforçam para dar-lhes um calendário decente - alguns desses clubes ficam por mais de um ano sem ter jogos -, e até mesmo a população os abandona. Com isso, como é de se esperar, diminui muito a capacidade de revelação de jogadores dos clubes pequenos. Não é preciso estender muito o raciocínio para ver como isso impacta na Seleção.

O enfraquecimento dos próprios clubes grandes vem sendo visível no futebol brasileiro. Porém, por anos, se dizia, não sem razão, que o Brasil tinha clubes fracos mas uma seleção forte. Agora, a fraqueza dos clubes refletiu na seleção brasileira. Os 7 a 1 podem até ter sido um resultado atípico, pode até ser que em 2018 o Brasil traga a taça dos campos russos. Mas, se o Brasil fechar os olhos para os seus grandes fornecedores de grandes jogadores, que são os clubes pequenos, a goleada sofrida para a Alemanha terá sido apenas um aperitivo para o que virá. Títulos serão cada vez mais raros, e vexames históricos, cada vez mais comuns.

Infelizmente, tudo indica que os objetivos de curto prazo prevalecerão, e os clubes pequenos continuarão "jogados para escanteio". Claro que o debate é importante, claro que há outras causas para o vexame do Brasil na Copa, mas dar atenção aos clubes pequenos é um passo essencial para qualquer solução que se busque para o futebol brasileiro - não somente para a seleção brasileira. Espero, sinceramente, estar errado nessa minha descrença.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Pena de morte? Redução da maioridade? Não precisamos de tanto.

Com a constante divulgação de notícias envolvendo crimes violentos pelos telejornais, alguns debates vêm se acalorando nos últimos anos. A notícia de um homicídio cruel sempre vem acompanhado de algum comentário como "Ah, tem que ter pena de morte nesses casos!". Se o criminoso é um menor, logo alguém pede a redução da maioridade penal. Mas será que essas são reais soluções para o problema da criminalidade? E, por ora, nem estou abordando o lado ético - que, admito, é uma questão bastante complicada -, mas apenas a efetividade dessas mudanças.

Ora, temos um Código Penal bastante ultrapassado, que estabelece algumas penas desproporcionais, e que criminaliza alguns atos que nem sequer deveriam ser considerados crimes. Isso é verdade. Mas sabemos que ele estabelece penas para os crimes mais graves, e especialmente para os mais comuns, como homicídio, roubo e furto. Porém, por que esses crimes continuam acontecendo?

Em primeiro lugar, um criminoso pode recorrer de sentenças condenatórias quase que indefinidamente. Isso leva a uma morosidade da Justiça que, por muitas vezes, acaba por permitir a um criminoso que saia em liberdade. Se condenado, o Código Penal prevê uma aberração jurídica chamada progressão da pena - o que significa que, após cumprir uma parte da pena, o réu tem direito de passar do regime fechado para o semi-aberto, e deste para o aberto. E, finalmente, a legislação prevê que nenhum condenado permaneça preso por mais de 30 anos.

Se os julgamentos fossem mais ágeis, com no máximo dois graus de jurisdição, a progressão da pena fosse extinta e não houvesse limite máximo de tempo de prisão, já teríamos meio caminho andado. Nesse último caso, eu concordo que cada crime individualmente tenha uma pena de no máximo 30 anos, mas, se o cidadão for condenado por dois ou mais crimes, e esses tiverem penas que, somadas, ultrapassem os trinta anos, que o cidadão permaneça por todo o tempo pelo qual foi condenado na cadeia.

Feito isso, é necessária, ainda, uma reforma do Código Penal, para adequá-lo à realidade atual. E, finalmente, e mais importante de tudo, deve-se investir pesado em segurança pública e educação, além de criar empregos e condições de trabalhos, especialmente para os jovens.

Não existe solução milagrosa para o problema da violência e da criminalidade. Condenar à morte os criminosos não é uma solução, porque não ataca a raiz do problema, não leva em conta o que levou a pessoa a cometer o crime. O mesmo se aplica a outras penas "alternativas" que muitas pessoas defendem, como amputação das mãos de quem rouba, ou castração química de estupradores. Aquele cidadão que sofreu a pena não voltará a cometer o crime, mas isso não impedirá outras pessoas de cometê-lo.

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Quanto à questão da maioridade penal, a solução é exatamente a mesma: educação de qualidade para crianças e jovens. A internação em casas para menores que cometem delitos é adequada, desde que tais locais não sejam escolas do crime, como muitas vezes o são. Mais uma vez: não existe solução mágica.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

É campeão!

Demorei um pouco para postar aqui, mas, na última segunda-feira, eu vivi uma das maiores emoções futebolísticas da minha vida.

Na referida data, fui ao Estádio Mané Garrincha,  para acompanhar a partida entre Brasília e Paysandu, pela final da Copa Verde, competição que envolve times do Norte, Centro-Oeste e Espírito Santo.

Não vou analisar a partida em si, pois já fiz isso no Campo de Terra. A história é bem conhecida: depois de perder por 2 a 1 em Belém, o Colorado devolveu o placar e levou o jogo para os pênaltis. Aí o Brasília ganhou de 7 a 6 e levantou a taça. Quero, ao invés disso, discorrer sobre o que fez essa partida tão especial.

Em primeiro lugar, o Brasília interrompeu um jejum de 27 anos sem títulos. A última taça havia sido o Campeonato Brasiliense de 1987. Eu, que moro em Brasília desde 1994, e desde então "adotei" o Brasília, nunca havia visto o Colorado levantar uma taça. E as circunstâncias certamente colaboraram para que esse momento fosse ainda mais incrível: gol do Paysandu no final, levando o jogo para os pênaltis, Paysandu tendo o pênalti do título para cobrar - e desperdiçando, goleiro espalmando para dentro o último pênalti do Brasília... claro que as circunstâncias colaboraram.

Depois disso, a taça veio no aniversário da cidade, o que não deixou de ter um simbolismo. E, talvez até mesmo por causa desse simbolismo, milhares de moradores da cidade aproveitaram o feriado para apoiar o time da cidade. Pessoas que não costumo ver nos jogos do Brasília estavam lado a lado comigo e com a pequena mas fiel torcida colorada. E ver tanta gente junto torcendo por um time de futebol de Brasília é algo que eu não via havia muito tempo. Foi uma festa muito bonita.

Com tudo isso, o resultado não poderia ser outro senão um dia inesquecível.  O dia em que, enfim, vi o Brasília campeão. O dia em que uma cidade se uniu para torcer pelo time que leva o seu nome. O dia em que o Mané Garrincha viveu uma festa genuinamente candanga, sem precisar "importar" clubes para jogar lá.

Obrigado Brasília!!!

É campeão!!!

domingo, 13 de abril de 2014

"Tá no ar: a TV na TV": volta ao passado

Confesso que há muito tempo eu não assistia a nada na TV aberta, simplesmente devido à queda vertiginosa da qualidade da programação nessa modalidade de TV. Essa queda atingiu especialmente os programas humorísticos. Eu tive o privilégio de crescer vendo "Viva o Gordo", e, posteriormente, "Veja o Gordo", "Chico Anysio Show", "TV Pirata", e tantas outras coisas boas que a TV nos oferecia nos anos 80. Porém, o humorismo na TV aberta havia morrido, e os programas de humor se tornaram absolutamente sem graça.

Porém, na última madrugada de quinta para sexta-feira, os telespectadores foram brindados com uma volta ao humor de qualidade, com o programa "Tá no ar: a TV na TV", capitaneado por Marcelo Adnet. Que Adnet é brilhante não é novidade, porém restava saber como ele se sairia na TV aberta. E se saiu muito bem. O novo programa copia, com muito sucesso, a receita da TV Pirata de fazer sátira com programas da própria emissora e das concorrentes, além das propagandas mais famosas. Fórmula que, diga-se, nunca se torna antiga. Com as novidades que aparecem na televisão a cada dia, há sempre uma forma de satirizar a programação, e, acima de tudo, de fazê-lo com inteligência, surpreendendo o telespectador.

Destaque também para a participação do genial Welder Rodrigues, cujo talento é incontestável, mas que sempre foi subaproveitado na emissora. Para nós, brasilienses, que o conhecemos desde os anos 90, mas lamentávamos nunca tê-lo visto explorando todo o seu talento na televisão, vê-lo enfim tendo todo o seu talento aproveitado é motivo para grande alegria.

Fazia tempo que eu não elogiava algo da programação da TV aberta - o CQC havia sido a última coisa, e, antes dele, nem me lembro mais. Mas "Tá no ar: a TV na TV" merece os elogios. Críticas, somente ao horário de transmissão, à meia-noite de quinta para sexta-feira. Mas, para quem aguentar acordado, vale a pena.

Cinema francês

Colocando em dia os assuntos atrasados, há aproximadamente uma semana visitei o Shopping Liberty Mall, um dos mais agradáveis da cidade (apesar do estacionamento caríssimo), e, no cinema do shopping, vi dois filmes franceses.

A primeira sessão teve lugar na sexta-feira retrasada, dia 4. Nessa ocasião, vi o muito bom "Ela vai" ("Elle s'en va, no original). No filme, Catherine Deneuve, sempre em ótima forma, intrepreta uma viúva que, largada pelo amante, resolve sair de carro pelo País, e passa por diversas situações que saem da mesmice do dia-a-dia. Um filme bem-humorado, que não decepciona e permite quase uma hora de boa diversão.

Três dias depois, foi a vez do excelente "Prenda-me" ("Arrêtez-moi", no original), que trata de uma mulher que, dez anos após o suicídio de seu violento marido, vai à delegacia e confessa à delegada de plantão que, na realidade, ele não havia se jogado da janela de seu apartamento, mas ela o havia empurrado. A maior parte do filme se desenvolve dentro da delegacia, com as conversas entre as duas mulheres. A tensão que se desenvolve entre elas prende a atenção até o final. A meu ver, o melhor dos dois filmes.

Duas ótimas chances para ver o bom cinema que se faz além de Hollywood. Recomendo bastante os dois filmes a quem tiver chance de vê-lo em sua cidade.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Criação de ministérios por lei complementar

Passou batido, mas, no último dia 26, o Congresso Nacional tomou uma decisão, a meu ver, equivocada: derrubou a PEC 34/2013, que previa que a criação de ministérios e outros órgãos da administração pública poderia ser feita somente por lei complementar. Como sabemos, leis complementares são aquelas cuja aprovação depende do voto da maioria absoluta dos membros de cada Casa do Congresso Nacional. Ou seja, para a lei ir à sanção, é necessário que, pelo menos, 257 Deputados Federais e 41 Senadores votem favoravelmente a ela. Entre outras consequências, caso essa PEC fosse aprovada e promulgada, passaria a ser impossível criar ministérios por medida provisória, como vinha se tornando rotineiro, e seria necessário um quórum qualificado para fazer isso. Assim, seria menos provável que um novo órgão fosse criado sem uma real necessidade.

Porém, a referida PEC foi derrubada pelo Senado Federal. Apesar de ter tido 31 votos favoráveis e 23 contrários, eram necessários 49 votos favoráveis para a matéria ser aprovada em primeiro turno. Se tivesse sido aprovada em primeiro turno, passaria por mais um turno de votação no Senado, e outros dois na Câmara, sempre precisando do voto favorável de três quintos dos membros de cada Casa.

Com a rejeição da PEC, continua sendo possível criar novos órgãos por leis ordinárias, que exigem apenas a maioria simples dos votos, e até mesmo por Medidas Provisórias, que são atos unilaterais do Presidente da República, que, embora sejam submetidas ao Congresso, geram efeitos imediatos. Pelo menos a possibilidade de criar órgãos por medida provisória deveria ser abolida, pois permite uma concentração muito grande de poder nas mãos do Presidente da República.

Respeito muito o Congresso Nacional, que é o maior pilar da democracia, mas, nessa decisão, acho que houve um equívoco.

65 ou 26

Depois de publicar, há alguns dias, um post comentando a pesquisa que indicava que, na opinião de 65% dos brasileiros, mulheres que usam roupas "provocantes" merecem ser "atacadas", agora é divulgada a "errata", indicando que esse número é de "apenas" 26%. A justificativa é que houve falhas metodológicas na indicação do valor de 65%.

Inicialmente, acho que mesmo esse novo número é lamentável. Ainda é absurdo pensar que, a cada quatro brasileiros, um defende a violência sexual contra a mulher quando esta se veste de uma forma atraente. Mas há, sim, um certo alívio em pensar que o número de pessoas que pensam assim é muito menor do que se imaginava pelo primeiro levantamento.

De toda forma, esse "alarme falso" serviu para abrir um importante debate, sobre a questão da violência sexual. O assunto foi amplamente discutido na sociedade nos últimos dias, e, com certeza, até mesmo uma parte dos 26% que pensava que a vítima de estupro pode ser culpada reviu suas posições. Ninguém que participa de redes sociais ficou alheio ao assunto, e a campanha "Eu não mereço ser estuprada" tomou grandes proporções. Que esse seja um grande primeiro passo para que esse crime hediondo seja abolido da sociedade.

E, finalizando, uso de roupas "provocantes" não justifica nem mesmo "cantadas" de mau gosto. E, como eu disse da outra vez, nenhuma vítima é culpada de um crime. Ninguém é culpado de ser assaltado por estar andando em uma rua escura.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Ainda a questão da mobilidade urbana

Não faz muito tempo que eu escrevi aqui no Panorama R sobre a questão da mobilidade urbana, com foco especialmente no transporte público do Distrito Federal. Pois bem, hoje me deparo com a notícia de que serão construídas duas pistas expressas que ligarão o Balão do Torto ao Balão do Colorado, no caminho para Sobradinho. A promessa é de acabar com os engarrafamentos nos locais - ou, nas palavras do Governador Agnelo Queiroz, "mudar a história da mobilidade urbana no DF".

Há poucos dias, vi uma metáfora que expressa exatamente a situação da forma como a questão da mobilidade urbana vem sendo tratada no Brasil todo, em especial em Brasília: "Combater congestionamentos alargando vias é como combater a obesidade afrouxando o cinto". A mensagem é clara. Alargar as pistas pode trazer um alívio temporário, mas, se a causa do problema não for combatida, em pouco tempo será preciso alargar novamente as pistas. Traduzindo: a solução definitiva do problema do trânsito passa necessariamente pelo investimento em transporte público.

Sabemos que simplesmente não há metrô para a parte norte do Distrito Federal. Moradores da Asa Norte, Sobradinho e Planaltina, além do Paranoá, não têm esse meio de transporte à sua disposição. E as linhas de ônibus que fazem esse percurso são extremamente deficientes. É muito difícil fazer o percurso Sobradinho-Plano Piloto ou vice-versa usando os meios públicos. Assim, só resta aos moradores usar o automóvel próprio. Assim, os engarrafamentos são inevitáveis.

Somente com o investimento adequado em transporte público o problema dos congestionamentos será resolvido. É necessário construir mais linhas de Metrô, e criar novas linhas de ônibus e aumentar a frota nas linhas já existentes, com ônibus em bom estado de conservação. E também investir na construção de ciclovias por todo o Distrito Federal. É caro fazer Metrô? Certamente é, mas é melhor andar a passos lentos do que simplesmente não investir nada na construção de novas linhas, como vem acontecendo. Construir novas pistas é apenas um paliativo, e, no longo prazo (talvez até antes), as novas pistas também estarão congestionadas.

Já passou da hora de os administradores de Brasília e das diversas cidades brasileiras mudarem o foco dos investimentos em mobilidade urbana, e entenderem que esse foco deve ser o transporte público. Do contrário, não há solução para o caos urbano.

sábado, 29 de março de 2014

Doze anos de escravidão

Já faz quase um mês que foi realizada a entrega do Oscar, mas eu ainda não havia visto o excelente "Doze anos de escravidão", que acabou, inclusive, ganhando a estatueta. Tirei esse atraso na noite de ontem, sexta-feira.

Excelente filme, com grandes atuações. Um retrato fiel de um tempo que nunca deveria ter acontecido, mas que, uma vez que foi uma triste realidade, é necessário manter a memória viva para que não cometamos os mesmos erros do passado. É impressionante como podem ter existido pessoas tão sem escrúpulos, a ponto de tirarem a liberdade de seres humanos e os obrigarem a trabalhar para eles. Mais triste ainda é pensar que essa realidade, embora ilegal, ainda exista em diversas partes do planeta.

O filme não é recomendado para pessoas sensíveis, pois tem cenas fortes. Mas é excelente, e vale a pena ir ao cinema para ver essa grande produção.

Brasiliense 0x3 Brasília - emoção (também) na Capital

Na última quarta-feira, estive no Estádio Serejão, em Taguatinga. Nesse estádio, Brasiliense e Brasília se enfrentaram pelas semifinais da Copa Verde - torneio organizado pela CBF, que reúne clubes do Norte, do Centro-Oeste e do Espírito Santo. Uma tarefa difícil para o Colorado, que é um dos clubes mais tradicionais de Brasília, mas que não ganha um título desde 1987. O Brasiliense havia ganho o primeiro jogo por 2 a 0, no Bezerrão - com mando de campo do Brasília - e era necessário vencer por pelo menos três gols de diferença, coisa que o Brasília nunca havia conseguido em jogos contra o Jacaré.

Um bom futebol no primeiro tempo, e a vantagem por 1 a 0, pareciam indicar que ainda havia muito por jogar, e a classificação colorada não era impossível. Aí veio o segundo tempo. O Colorado demorou 30 minutos para marcar o 2 a 0, resultado que levaria o jogo para os pênaltis. E esse parecia o destino do jogo quando, perto do final, o Brasília marcou o terceiro, fazendo explodir a parte do estádio que havia ido torcer pelo Brasília - da qual eu fiz parte. Àquela altura, mesmo que o Brasiliense marcasse um gol, o Brasília estaria classificado, porque havia marcado três gols fora de casa, contra dois do adversário. Mas o jogo terminou mesmo com a vitória do Brasília por 3 a 0, e a classificação para a final.

Foi o tipo de jogo para desmentir de vez a história de que os jogos entre clubes de Brasília não têm emoção, um verdadeiro "tapa na cara" de quem acredita que só existe futebol nos grandes clubes. A partida pode não ter sido um primor de técnica, mas certamente não faltou emoção para quem esteve lá. Vaga assegurada na final, o Brasília enfrentará o Paysandu. A primeira partida será em Belém; a segunda, em Brasília - e cogita-se usar o Mané Garrincha para a realização desse jogo. Seja onde for, quem sai fortalecido é o futebol de Brasília, tão mal administrado e ignorado por imprensa e cidadãos locais.

Consternação

Consternação. É a única palavra que me vem à mente ao tomar conhecimento da pesquisa, que vem sendo amplamente divulgada pela imprensa e pelas redes sociais, que afirma que 65% das pessoas pesquisadas acreditam que as vítimas de estupro são culpadas pela barbárie sofrida.

Não vi detalhes sobre a pesquisa, mas prefiro acreditar que esse número se deve a alguma falha metodológica, ou a algum grupo de pessoas que tenha tentado, em tom de brincadeira, mudar o resultado da pesquisa - ou, como se diz na gíria, trollar a pesquisa. Não dá para entender como tantas pessoas tenham um pensamento tão pequeno, e não só acreditem que os estupros acontecem porque as vítimas provocam os estupradores, como dizem isso abertamente. Eu entenderia que, se entrássemos na mente das pessoas para descobrir a verdade, talvez tivéssemos um número parecido de pessoas que têm essa opinião, mas ver que tanta gente diz isso abertamente chega a ser até mesmo constrangedor.

Nenhuma vítima de crime deve ser considerada culpada pelo crime. Assim, quando alguém é assaltado, não deve ser considerado culpado porque "estava andando naquela rua escura naquela hora" ou porque "estava namorando no carro". Quem sofre um golpe não deve ser culpado porque "confiou naquele pilantra". Da mesma forma, a vítima de estupro não deve ser considerada culpada porque "estava usando uma roupa provocante", ou algo do tipo. Nada, absolutamente nada, justifica a ação de nenhum criminoso.

Às vezes, parece não haver mais esperanças de que a mentalidade das pessoas mude. Até quando?

quarta-feira, 26 de março de 2014

Porto de Mariel: ouvindo o outro lado - e o contraditando

A notícia de que o governo brasileiro estaria investindo na construção de um porto em Cuba causou muito barulho por aqui. As críticas vieram de todos os lados: por que o governo brasileiro estaria investindo em um porto em outo país? Isso seria correto? A respeito disso, encontrei essa matéria da revista Carta Capital: Por que o Brasil está certo ao investir em Cuba.

A matéria está correta em muitos aspectos, ao abordar as vantagens comerciais que tal investimento trará às empresas brasileiras, e ao próprio Brasil. Mas o fator mais importante não foi levado em conta: não seria melhor para as empresas brasileiras se, antes de elas se beneficiarem de um porto em um País estrangeiro, pudessem se beneficiar de boas estradas, uma boa infraestrutura portuária e aeroportuária, ferrovias - para transporte de cargas e de passageiros - aqui no Brasil mesmo? A meu ver, as empresas e a população brasileiras seriam muito mais beneficiadas se fosse implementada essa infraestrutura aqui no Brasil mesmo. Não há sentido em investir em obras fora do País enquanto os portos e aeroportos, as estradas e ferrovias do Brasil estiverem em péssimas condições, travando o crescimento do País.

Sou um defensor da integração entre os povos, entre os diversos Países. Mas entendo que qualquer Governo deve ter como principal objetivo o bem-estar do povo governado. Deve-se, sim, garantir a integração internacional e a boa convivência com os Estados estrangeiros, mas nunca deixar a própria população em segundo plano. Também refuto as alegações ideológicas usadas para atacar o investimento em Cuba - ou seja, o discurso de que "Cuba é comunista, então não devemos investir lá". Só acho inaceitável que, com tantos problemas por resolver no País, se priorizem investimentos em outros países que trazem menos vantagens do que trariam investimentos feitos aqui, enquanto estes últimos sejam necessários.

Enfim, espero que o Governo brasileiro (e aqui não estou fazendo nenhuma consideração de natureza partidária, me refiro a qualquer pessoa que exerça a Presidência da República) reveja suas prioridades, e que os investimentos em infraestrutura em outros Países somente sejam feitos quando houver dinheiro para fazê-los sem descuidar dos problemas internos.

terça-feira, 25 de março de 2014

Basquete no Brasil: NBB ou VBB?

No último post, falei que acabei indo ver "Elis, a musical" porque o programa que eu ia fazer em São Paulo foi cancelado. Assim, vou detalhar agora do que se tratou esse cancelamento.

O meu programa na capital paulista era ver o jogo de basquete entre Palmeiras e Minas, pelo Campeonato Brasileiro, que agora tem o nome pomposo de NBB (Novo Basquete Brasil). O jogo estava marcado para as 18 horas do último sábado, e eu comprei as passagens e reservei o hotel com onze dias de antecedência. Dois dias antes da viagem, entrei no site da Liga de Basquete só para confirmar o horário do jogo, e, para minha surpresa, a partida havia sido adiada. Não sei quando exatamente se deu o adiamento, mas certamente foi nos onze dias que antecederam a data original, e eu não vi em nenhum lugar a notícia do adiamento, nem a justificativa para o mesmo. Simplesmente a tabela mostrava a nova data.

Entendo que imprevistos existem, e nenhum evento tem 100% de confirmação para o horário marcado. Mas não me parece o caso de ter havido algum imprevisto. A Liga simplesmente adiou o jogo de forma aleatória, me deixando com uma passagem e uma reserva de hotel na mão, sem saber o que fazer com elas. Será que esse é o jeito correto de administrar, e popularizar, não só o basquete, mas qualquer evento? Há alguns anos, estive nos Estados Unidos e fui ver um jogo entre New York Knicks e Chicago Bulls. Vários meses antes, eu já sabia o dia e horário exatos em que a partida seria realizada, e comprei meu ingresso com quatro meses de antecedência. Não houve nenhuma alteração, e, se houvesse, seria por um motivo de força maior realmente justo - como um atentado terrorista, e não simplesmente a vontade de algum gestor. E aqui, não se trata de "país rico" e "país pobre", é só uma questão de organização, e, acima de tudo, de respeito ao consumidor - ou ao torcedor, no caso de eventos esportivos.

Isso leva à pergunta que coloquei no post. Quando a Liga Nacional de Basquete foi formada, e rebatizou o campeonato brasileiro de NBB (Novo Basquete Brasil), a promessa era de modernizar o esporte e sua gestão no país. Passados vários anos, parece que nada mudou. Não seria o caso de rebatizarmos o campeonato como VBB (Velho Basquete Brasil)?

Um pequeno adendo: com que direito a Liga resolveu "zerar" a história do basquete desde a sua criação? Todas as estatísticas que eles publicam (na Internet, nas redes sociais, etc.) contam apenas eventos posteriores à sua criação. Por exemplo, "Minas e São José se enfrentaram x vezes no NBB, com y vitórias do Minas e z vitórias do São José". Por que o passado do basquete ficou esquecido?

Elis, a musical - vale muito a pena ver


Foto retirada do site do Teatro Alfa. Caso você não possa ver a imagem, é porque ela foi retirada pelos administradores do site.

Estive na capital paulista no último fim de semana. Uma vez que o meu programa na cidade foi cancelado - tratarei disso em outro post - fui conferir a agenda cultural da cidade. Aí, lembrei que estava sendo apresentado o espetáculo "Elis, a musical", que, como o nome diz, com a troca proposital do artigo, se trata de um musical que conta a história da vida da Elis Regina. Por um milagre, dois dias antes da apresentação, consegui comprar o único lugar ainda disponível no Teatro Alfa. Com o ingresso na mão (retirado em Brasília mesmo, na sexta-feira), fui para o teatro.

A palavra "espetacular" talvez não seja suficiente para descrever o que foi a apresentação. Durante as pouco mais de três horas que durou a apresentação (com um providencial intervalo de quinze minutos), tive a sensação de realmente estar vendo Elis Regina interpretando as canções que a levaram ao sucesso, ao lado de outros artistas renomados, como Tom Jobim e Jair Rodrigues. Mas nenhum desses estava lá. No papel de Elis Regina, estava a esplêndida Laila Garin. Ao ouvi-la cantar, era impossível não achar que se estava realmente diante da cantora gaúcha. Os pontos altos foram as interpretações com Jair Rodrigues no programa "No fino da bossa" e com Tom Jobim em Águas de março. Praticamente idênticas às versões originais.

Todo o musical, porém, é memorável, desde a adolescência da cantora em Porto Alegre até o sucesso e os espetáculos que Elis organizou, como Transversal do tempo e Falso brilhante. Uma obra-prima, que merece ser vista.

Mais informações sobre a peça podem ser obtidas no site do teatro, aqui. Os ingressos são vendidos no site do Ingresso Rápido, aqui. Totalmente recomendado.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Do transporte público em Brasília

Já faz algum tempo que eu venho planejando escrever sobre a questão do transporte público em Brasília (do qual sou um frequente usuário). Hoje, porém, o Correio Braziliense divulgou uma matéria que fornece importante subsídio.

Na matéria, que estampa a primeira página do caderno Cidades da edição de hoje (14 de março), se diz que 1,59 bilhão de reais serão repassados pelo Governo Federal, por meio do seu famoso Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para investimentos diversos no transporte público da Capital Federal. Entre as obras, estão o Expresso DF Norte, que ligará a Rodoviária do Plano Piloto a Sobradinho e Planaltina, a aquisição de trens do VLT para ligar o Plano Piloto ao aeroporto (sim, aquela mesmíssima obra que há anos vem infernizando a vida dos motoristas que passam pelo Setor Policial Sul), aquisição de novos trens para o Metrô, abertura das estações da Asa Sul ainda não operacionais, e elaboração dos projetos básicos e executivo para expansão do Metrô para a Asa Norte, entre outras obras.

Como cidadão e como usuário do transporte público, espero que tais obras saiam do papel e, em pouco tempo, estejam servindo à população (a matéria não fala do prazo de conclusão das obras, embora seja difícil acreditar que as mesmas se concluam na atual gestão, que se encerra em alguns meses). No entanto, dando uma navegada por notícias antigas, encontrei esta aqui, do Correio Braziliense de 13 de julho de 2012 (!!!!). Transcrevendo:

Uma reclamação antiga de moradores de Ceilândia, Samambaia e dos trabalhadores de Brasília deve ser solucionada até o fim de 2015, com a construção de mais cinco estações de metrô — duas em cada cidade e a primeira da Asa Norte. Nesta semana, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) homologou o resultado da licitação que contratou a empresa responsável por elaborar os projetos básicos e executivos das futuras paradas. Esta primeira fase custará ao Metrô-DF R$ 17 milhões. A expectativa é de que as estações estejam prontas em três anos. O custo global da obra está calculado em R$ 217 milhões.

O processo de elaboração dos projetos de engenharia e arquitetura das estações pode durar até 18 meses, mas a ideia é ter os desenhos das plantas prontos até o início do ano que vem. Em seguida, será aberto certame para contratar a construtora. A expansão atenderá às populações do Setor O, em Ceilândia, onde serão construídas as estações 28 e 29. Em Samambaia, as duas novas paradas, a 34 e 35, beneficiará as áreas mais isoladas da cidade. Por fim, o Plano Piloto também ganhará um ponto na Galeria do Trabalhador, no Setor Comercial Norte. No total, a malha metroviária do DF terá uma expansão de 7,5km.

Bom, vamos lá. Em primeiro lugar, devo dizer que li esta matéria há alguns dias, portanto não tinha conhecimento da matéria de hoje do mesmo jornal. A matéria afirma que a obra de expansão do Metrô para a Asa Norte estará concluída em 2015. Tendo em vista que não existe nenhum movimento de obras nos locais que devem abrigar as novas estações, não é difícil adivinhar que as obras não estarão prontas até o final de 2015. Porém, a situação ficou mais grave quando li a matéria de hoje. Segundo essa matéria (repito, de hoje), serão destinados 77 milhões de reias para a elaboração dos projetos básico e executivo da expansão do Metrô para a Asa Norte. Pois bem, vamos reler a matéria de 2012:

Nesta semana, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) homologou o resultado da licitação que contratou a empresa responsável por elaborar os projetos básicos e executivos das futuras paradas.

Lá se vão dois anos que o resultado da licitação foi homologado. Então, por que só agora os projetos serão elaborados? E ao custo de mais 77 milhões de reais? Haverá uma nova licitação, ou a empresa vencedora do certame há dois anos é quem vai elaborar esses projetos? Perguntas que seguem sem resposta. E os cidadãos brasilienses seguem sem um transporte público de qualidade. Até quando?

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Dito isso, um adendo se faz necessário: como eu citei anteriormente, o valor destinado às obras de melhoria do transporte público (sem data prevista para a conclusão, lembremos) é de 1,59 bilhão de reais. Por outro lado, a reforma do Mané Garrincha custou algo em torno de 1,7 bilhão de reais. E ainda haverá mais despesas por conta de pequenas reformas futuras. Isso em um momento em que o futebol de Brasília está em baixa, e leva pouco público aos estádios.

Pergunta: faz algum sentido investir menos em um sistema de transportes que servirá a população por anos, ajudando a melhorar o caótico trânsito da Capital Federal, do que em um estádio que, a partir do dia 13 de julho de 2014, não servirá para nada?

quinta-feira, 6 de março de 2014

Telefonia de qualidade X Superávit primário

Hoje de manhã, leio a Folha de São Paulo e, já na primeira página, bato o olho em uma notícia: o Governo estuda a hipótese de, no leilão destinado à concessão de serviços de telefonia e internet móveis, previsto para agosto, aumentar o valor mínimo a cobrar das operadoras. Em contrapartida, acabar com, ou no mínimo reduzir, as metas de cobertura. Na prática, desobrigar as operadoras a oferecer seus serviços em cidades menores, ou com população de mais baixa renda. O objetivo disso? Alcançar as metas de superávit primário.

Confesso que não entendo de telefonia, do ponto de vista técnico. Termos como "blocos", "frequências", e outros usados na matéria da Folha, são obscuros para mim. Mas considero inaceitável que alcançar as tais metas de superávit primário seja mais importante do que fazer aquilo que é, ou deve ser, o principal objetivo de qualquer Governo: oferecer serviços de qualidade ao povo por ele governado.

O Governo atual vem se orgulhando aos quatro ventos de toda a inclusão social que, segundo ele, vem promovendo. Será que limitar a área onde será oferecido um serviço de telefonia de qualidade é uma boa forma de promover inclusão social? A meu ver, não. Não defendo a moratória ou o não pagamento da dívida pública - pelo contrário, sou totalmente contra isso -, mas a prioridade é o povo. Não acredito que seja inteligente fazer esse tipo de corte para promover o alcance do superávit primário.

Em anos passados, foi amplamente divulgado na imprensa que o Governo cortou gastos na saúde e na educação para atingir as metas de superávit primário. Vários serviços de infraestrutura, como acontece nesse caso da telefonia, já foram atingidos pelas "economias" governamentais (é só ver que pouquíssimas das obras que compunham o tal "legado da Copa" ficarão prontas a tempo). Porém, a falta de visão de futuro não faz o governo ver que, no futuro, esses investimentos que não foram feitos poderiam até mesmo aumentar a arrecadação pública - sem que fosse necessário aumentar os impostos.

Para quem quiser ler a matéria da Folha, pode clicar aqui.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Brasileirão com 32 clubes: por que não?

Por muitos anos, defendi o Brasileirão em dois turnos, com pontos corridos. Porém, ultimamente, venho questionando essa fórmula. Algo importante não vem sendo levado em consideração, e é isso que eu vou colocar aqui. Como sempre, a ideia é abrir o debate, e não apresentar uma verdade definitiva.

Vejamos. O sistema de pontos corridos, com algo entre 18 e 22 clubes, faz sucesso na Europa. Porém, o Velho Continente é composto de países muito menores, em termos de área física, do que o Brasil. Na maioria dos campeonatos, são duas ou três equipes brigando pelo título, outras tantas correndo por fora e beliscando uma taça de vez em quando, e só.

Aqui no Brasil, o campeonato nacional conta atualmente com 20 clubes, assim como a maioria dos torneios da Europa. No entanto, por aqui, temos 12 clubes que são indiscutivelmente considerados grandes: Grêmio/Inter, Cruzeiro/Atlético, Corinthians/Palmeiras/São Paulo/Santos e Flamengo/Fluminense/Botafogo/Vasco. Considerando-se que nenhuma dessas equipes tenha sido rebaixada, restam oito vagas na Série A. Porém, existem vários clubes médio-grandes no País, que têm grandes torcidas em suas cidades, levando grandes públicos a seus jogos, e por vezes fazem boas campanhas e até brigam pelo título. Nesse grupo, temos Coritiba, Atlético Paranaense, Bahia, Vitória, Santa Cruz, Sport, Náutico, Ceará, Fortaleza, Goiás, e poderíamos ainda incluir nele clubes como os paraenses Remo e Paysandu, e o goiano Vila Nova, que andam longe dos tempos áureos, mas que têm torcidas numerosas e fiéis. Fica claro que um campeonato com 20 clubes é insuficiente para abrigar todas essas equipes.

É bem verdade que a Série B hoje em dia é muito mais prestigiada do que era há 15 anos. Mas, sejamos honestos, é um pouco desmotivante disputar a série inferior. Claro que não há lugar para todos na elite, mas expandir a Primeira Divisão aumentaria a chance desses médio-grandes de estar na Série A, dando a eles uma motivação maior, de talvez no futuro, brigar por títulos. E, a bem da verdade, até clubes menores, de centros não tão fortes atualmente, poderiam crescer. Claro que, se algum clube médio-grande ou grande for rebaixado mesmo assim, que se cumpra o regulamento.

Infelizmente, o efeito colateral dessa fórmula seria o fim dos pontos corridos, e certos confrontos não se realizariam em todo o campeonato. Mas é um preço a se pagar. Como ideia, eu proporia uma divisão em dois grupos de 16 clubes, com os dois (ou três) primeiros se classificando para um quadrangular (ou hexagonal) final, e os dois últimos sendo rebaixados - ou os três últimos de cada grupo fazendo um hexagonal no qual os dois primeiros se salvam e os demais caem.

Naturalmente, não sou a favor que se faça isso já neste ano, ou no ano que vem - já que o regulamento deste ano, já aprovado, não contempla um aumento do número de clubes. Mas talvez já fosse possível implementar algo do tipo em 2016. O critério para definir os participantes seria acesso e descenso. Pessoalmente, sou contra a classificação pelos estaduais. Primeiro, porque acho que os estaduais, como são atualmente, deveriam acabar. Depois, porque dar uma vaga (ou mais) a todos os campeões estaduais diminui a motivação dos clubes menores para montar times fortes, pois, mesmo que percam todos os jogos, no ano seguinte estarão na Primeira Divisão caso vençam seus estaduais.

Fica aí a ideia, para os dirigentes da CBF, e para todos os fãs de futebol.

domingo, 2 de março de 2014

Qual é a reforma política necessária?

Muito se tem falado de reforma política. Eu concordo que o sistema atual possui algumas falhas importantes, especialmente no que diz respeito à distribuição das vagas nas eleições proporcionais, de modo que vou tentar analisar os problemas do cenário atual e propor alternativas.

Acho que não há nada a mudar no que tange as eleições majoritárias. O sistema atual, de eleições em dois turnos para os cargos do Executivo, e em um turno para o Senado, tem poucos reparos a serem feitos. O único ponto um pouco mais complicado é a questão da suplência do Senador, mas eu não vejo necessidade de fazer grandes reparos quanto a isso.

Quanto às eleições para deputados e vereadores, acho que o voto distrital é uma boa ideia, que precisa ser debatida. Por ora, porém, deixo duas mudanças importantíssimas que devem ser feitas no sistema proporcional, para melhorar a distribuição de vagas, tornando-a um retrato mais fiel do pensamento do povo.

1. O conceito de coligação para as eleições proporcionais deve ser extinto. A distribuição de vagas deve ser feita por partido, e não por coligação, como é atualmente. Essa mudança deixa o eleitor mais à vontade para escolher um candidato do partido de sua preferência, evitando que ele dê seu voto, involuntariamente, a um partido que não seja de seu agrado.

Pode acontecer, ainda, de um eleitor votar em um candidato "da oposição" e ajudar um candidato "da situação" a se reeleger, ou vice-versa. Por exemplo, imagine-se que dois partidos, PA e PB, têm os candidatos que brigam para se eleger Presidente (ou Governador, ou Prefeito, tanto faz). Aí, um partido menor, o PX, faz uma coligação com o PA. Com isso, o eleitor que vota em candidatos do PA (ou vota na legenda) ajuda também a aumentar o coeficiente partidário do bloco PA/PX, e, portanto, a eleger deputados do PX. Pois bem, imagine-se, agora, que o candidato do PB venceu as eleições presidenciais, e, depois, no Parlamento, o PX passou a fazer parte da base aliada do PB. Aí, o cidadão que votou na oposição ajudou a eleger um candidaro da base governista.

Alguns argumentariam que, se fosse assim, os partidos pequenos iam quebrar. Pessoalmente, eu acho que, se um partido não tem representatividade social suficiente para eleger um parlamentar, ele não deve estar representado no Parlamento. De toda forma, a próxima mudança que eu vou propor pode amenizar um pouco essa situação.

2. Na distribuição das "sobras", devem participar também os partidos que não atingiram o coeficiente eleitoral. Como se sabe, o coeficiente eleitoral é dado dividindo-se o número de votos de um partido ou coligação pelo número total de votos válidos, e multiplicando-se o resultado pelo número de vagas disponíveis no Parlamento. Esse resultado dá o número de deputados a que cada coligação tem direito. Depois disso, se sobrarem vagas, essas serão distribuídas de acordo com a parte fracionária do coeficiente eleitoral. Ocorre que, pela legislação atual (art. 109, § 2º, do Código Eleitoral), os partidos que tiveram coeficiente eleitoral infeior a 1 não participam dessa distribuição das "sobras". Incluir tais partidos na distribuição das sobras facilitaria o acesso dos partidos menores ao Parlamento, e ainda faria justiça, evitando que uma vaga fosse dada a um partido que passou longe de ter votos para fazer mais um parlamentar, enquanto outro que teve coeficiente eleitoral de, digamos, 0,99, ficasse de fora.

Já tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 2.737/2011, que busca fazer essa mudança, mas, infelizmente, tal projeto está há dois anos parado na Casa.

Dito isso, talvez outras mudanças possam ser feitas no sistema eleitoral em geral. Uma mudança que eu sugeriria seria fazer eleições bienais, sendo uma para os cargos do Executivo, e, dois anos depois, outra para os cargos do Legislativo. O sistema atual faz com que as eleições do Legislativo, que são as mais importantes, fiquem em segundo plano.

Essas são algumas ideias de alterações no sistema eleitoral. O debate é longo, mas é precido fazê-lo.

Sugestão de leitura


Nos últimos dias, tive a oportunidade de adquirir a preciosidade aí da foto: o livro "Come-Fogo: tradição e rivalidade no interior do Brasil", do autor Igor Ramos. Praticamente toda a história dos confrontos entre Comercial e Botafogo, em um dos levantamentos mais completos sobre esse clássico já feita. Tem fichas técnicas de todos os jogos, com direito a uma breve descrição do que aconteceu em cada um, imagens, curiosidades, estatísticas. Enfim, uma grande compilação da história desse clássico.

Em um país onde cada vez mais a história do futebol longe dos grandes centros (riquíssima, diga-se de passagem) é ignorada e a mídia cada vez mais só tem atenção para os grandes clubes, um levantamento desses tem muito a somar à cultura futebolística. Uma história que já teve muitos capítulos (o Campo de Terra já fez a cobertura de um desses capítulos, o que marcou o retorno desse clássico à Primeira Divisão paulista), e ainda terá muitos - o próximo deles será escrito sábado que vem. Uma chance de ouro de conhecer um pouco da verdadeira história do futebol.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Os erros no debate da segurança pública

O assunto atual é a discussão sobre a maioridade penal. Deve-se reduzir a maioridade penal e obrigar jovens de 16, 14 anos, que cometerem crimes, a pagar por esses crimes como se fossem adultos? Ou somente os maiores de 18 anos que devem responder criminalmente? O debate é válido, mas, infelizmente, eu vejo esse debate tomando o caminho errado. Para muitos, reduzir a maioridade penal é a solução definitiva para o problema da violência urbana.

Há nove anos, passamos por experiência semelhante. Foi realizado no País um referendo, em que se perguntava ao eleitor se o comércio de armas deveria ser proibido ou não. O debate foi na mesma direção: tanto partidários do "sim" quanto do "não" acreditavam que a sua opção era a solução definitiva para o problema da criminalidade. Pois bem, o "não" ganhou, o comércio de armas foi liberado, e nem vivemos em um País sem violência, nem mergulhamos no caos total, por causa desse resultado. Não houve efeito prático nenhum sobre a violência por causa desse resultado.

E agora o erro se repete. Como eu disse, o debate é importante, mas o problema é que a solução definitiva para a criminalidade está longe de se restringir apenas à idade da maioridade penal, ao contrário do que a paixão com que se debate tal tema faz supor.

Não sou especialista em segurança pública, e nem é meu objetivo esgotar o assunto e apresentar uma solução definitiva aqui nesse post. Mas o que eu afirmo é que não existe NENHUMA SOLUÇÃO DEFINITIVA para o problema da violência que não passe por uma educação de qualidade para todos. Isso engloba principalmente as pequenas cidades, os municípios mais pobres do País. Um ensino de qualidade aumenta as chances de um jovem não ir para o mundo do crime. Claro que existem criminosos com nível superior, e pessoas sem escolaridade que ganham a vida honestamente, mas é evidente que a educação abre perspectivas para as pessoas.

Depois disso, algumas ações importantes são: criar oportunidades de emprego, especialmente nas pequenas cidades; reformar o sistema prisional, construindo novos presídios e acabando com a superpopulação carcerária; reforçar a segurança nas cidades, com policiais bem treinados e bem remunerados. Daí em diante, deixo a palavra com os especialistas em segurança pública. Esse parágrafo todo parece até óbvio, mas serve para ilustrar como o problema está longe de acabar simplesmente com a redução da maioridade penal.

Finalizando: pessoalmente, a princípio, sou contra a redução da maioridade penal. Acho que é necessária uma análise aprofundada da aplicação de medidas sócio-educativas ao menor que comete um delito. Aumentar o tempo máximo de internação para crimes graves e obrigar os jovens internados a estudar são alternativas que me parecem viáveis. Acima de tudo, deve-se impedir que os centros de internação de menores se transformem em escolas do crime.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Trote: até quando?

Leio a notícia de um trote violento na Universaidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, e começo a pensar: até quando esse tipo de prática continuará acontecendo? E não me refiro somente aos trotes violentos, mas até os trotes, digamos, não-violentos submetem os novatos das universidades a humilhações injustificáveis, por terem cometido o "crime" de fazer um bom vestibular e ingressar numa instituição de ensino superior.

Quando cursei Física na Universidade de Brasília, vi diversos trotes sendo aplicados em estudantes recém-admitidos, normalmente aplicados em dias de provas, ou outros eventos em que a presença dos alunos é imprescindível. A atmosfera ficava irrespirável no local do trote, devido ao uso de produtos que cheiram mal para sujar os calouros. Por vezes vi fios de cabelo espalhados pelo chão, fruto de uma das práticas mais nefastas desse tipo de "brincadeira", que é cortar o cabelo dos novatos. E a maioria desses trotes são considerados não-violentos, não geram repercussão e ninguém acaba punido.

Pior de tudo é ver a prática do trote até mesmo marcada como tradicional. É comum ver propagandas de cursinhos ou materiais didáticos em que aparecem pessoas pintadas, ou com a cabeça raspada, para caracterizar a entrada na Universidade. Isso "oficializa" a prática, tornando-a algo comum, e não uma abominação, que deveria ficar restrita ao passado, e não ser reproduzida em pleno Século XXI.

Até quando leremos notícias de trotes violentos? Veremos nossos filhos chegando em casa sujos e desconsolados? Quando entraremos no Século XXI?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Crônica de Davi e Golias

Na última quarta-feira, fui assistir ao jogo entre Brasília e Sport Recife, pela Copa do Brasil. Mais um dos tantos duelos de Davi e Golias, tão comuns no futebol. O Brasília, clube mais vencedor da Capital Federal nos anos 80, disputava pela primeira vez a Copa do Brasil. Ao contrário do Sport, que já chegou a duas finais da competição, tendo vencido uma delas. Os pernambucanos eram favoritos, mas vai que essa era a vez da vitória de Davi sobre Golias.

Cheguei ao estádio cerca de uma hora antes do jogo. O público foi pequeno, e em sua grande maioria estava apoiando o Sport. Mas eu e meus amigos que estavam junto comigo demos aquela força ao time da casa.

E, por um instante, chegamos a acreditar na vitória. Gauchinho, jogador com uma artilharia de Copa de Libertadores no currículo, acertou uma bela cabeçada e abriu o placar. Brasília 1 a 0. Fizemos festa. Alguns dos meus amigos começaram a ligar para quem não tinha ido no jogo para contar a novidade: "Está 1 a 0 para o Brasília!!!"

A alegria durou pouco. Apenas 13 minutos depois, o Sport já havia virado o placar, com direito a um frangaço do goleiro Roger. Se o Sport vencesse por dois gols de diferença, não haveria sequer o jogo de volta, em Recife. A vaga já seria dos pernambucanos. Portanto, o Brasília deveria redobrar a atenção. E o primeiro tempo acabou assim mesmo: Sport 2 a 1.

O segundo tempo seria crucial. E o Brasília até devolveu as esperanças da torcida, novamente com Gauchinho, aos 15 minutos. Estava tudo igual novamente. Bastaram, porém, oito minutos para que o Sport balançasse as redes por duas vezes - a última numa falha clamorosa da defesa - e conseguisse a vantagem de dois gols que daria a vaga sem a necessidade do segundo jogo.

Assim, era fundamental que o Brasília marcasse pelo menos um gol. A gente ainda incentivou, fez o que podia. Mas a rede não balançou mais. E o Sport voltou para Recife com a vitória e a classificação na bagagem. Final: Brasília 2x4 Sport Recife.

Claro que queríamos a vitória. Mas, no fim, o mais importante foi voltar a enfrentar uma equipe de renome no cenário nacional. E fazer a nossa festa. Afinal, é isso que o futebol deve ser: uma festa.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Integração latinoamericana

Leio no UOL que os países da América Latina acabam de criar um bloco regional, do qual não fazem parte os Estados Unidos e o Canadá. Considero essa uma ótima notícia, até por ser a favor da integração entre os países. Sei que sou até meio utópico nesse assunto, mas acho que a criação da União Europeia, em especial a adoção do Euro e o Tratado de Schengen (que eliminou todas as barreiras alfandegárias entre os signatários) foi um passo gigantesco até mesmo na história da humanidade. Por isso entendo que, desde que não haja prejuízos para a população de nenhum dos países envolvidos, a criação de blocos de países é sempre bem-vinda.

No caso da América Latina, entendo que existe uma grande afinidade entre os países, que, embora tenham entre si diferenças importantes, enfrentam basicamente os mesmos problemas de má distribuição de renda e grande dependência económica dos países desenvolvidos. Essa união pode torná-los mais fortes em suas relações internacionais, em especial com os Estados Unidos, que acabam dominando o restante da América por seu poder econômico. Pode ser um caminho importante para o enriquecimento dos países do bloco e superação de seus principais problemas.

Por outro lado, o acordo não pode representar um rompimento com os Estados Unidos. Por mais que se critique esse país, ele é sem dúvida um parceiro comercial importante para o bloco. E essa parceria se dá nos dois sentidos. Se a América Latina precisa dos Estados Unidos, a recíproca é muito verdadeira. Afinal de conta, ela constitui um gigantesco mercado consumidor para os produtos estadunidenses, e, se os Estados Unidos abrirem mão desse mercado, terão grande prejuízo.

Enfim, vou aguardar mais informações sobre o novo bloco, bem como sua evolução, antes de tecer maiores considerações. Mas acredito que o acordo será bom para os países integrantes do bloco.

Do bilhete premiado de Novo Hamburgo

Um assunto interessante ganhou as manchetes neste início de semana: em Novo Hamburgo, apostadores que participaram de um bolão da Mega Sena acumulada foram conferir seus jogos e viram que um dos bilhetes tinha acertado os seis números. Um prêmio de 53 milhões de reais seria dividido entre todos os que apostaram, o que lhes garantiria boa qualidade de vida por um bom tempo. Porém, para surpresa geral, a Caixa divulgou que não houve ganhadores no concurso. A dúvida: ocorreu algum erro no processamento do bilhete, ou o bilhete simplesmente nunca foi jogado? Houve má-fé de algum lado?

Não vou acusar nem defender o dono da lotérica em que a aposta foi feita, até porque não tenho elementos para isso. Mas é inegável que esses bolões não-oficiais realizados por lotéricas são um convite ao estelionato. Primeiramente, quem garante que o dono da agência realmente vai realmente registrar as apostas? Sem fornecer um comprovante oficial de apostas, embolsar o dinheiro dos apostadores, ao invés de registrar as apostas e repassar parte do dinheiro para a Caixa, é muito fácil, e o risco é mínimo. O único perigo é o bilhete ser premiado. Se for um prêmio pequeno, o próprio dono da lotérica dessa situação hipotética paga do bolso dele, e ainda assim sai lucrando. Um prêmio grande tem uma probablidade mínima de sair, e por isso os donos de agências lotéricas que eventualmente ajam dessa forma ilegal geralmente podem dormir tranquilos. Mas se o prêmio sai para a aposta do bolão, aí a situação fica complicada.

E é exatamente isso que muitos suspeitam que tenha acontecido em Novo Hamburgo.

Pessoalmente, eu sempre desconfio desses bolões de loteria, e prefiro fazer minhas apostas pelos meios convencionais, oficiais. E, em especial, prefiro não depositar minhas esperanças em prêmios lotéricos, e trabalhar para atingir meus objetivos.

De toda forma, espero que esse episódio de Novo Hamburgo sirva para alertar a população brasileira, para que fique atenta e não caia em golpes. E, de resto, aproveito para dizer que não acredito em fraudes nos sorteios realizados pela Caixa Econômica Federal. Mas falarei desse assunto oportunamente.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Escândalo no DF e Federalismo

Nos últimos dias, a crise política no Distrito Federal foi destaque nos noticiários, não só em Brasília como no Brasil inteiro. As notícias sobre o assunto são uma presença constante em todos os jornais do País. No entanto, dessa profusão de notícias, uma em especial me chamou a atenção, e é dela que vou falar aqui: a controvérsia jurídica quanto à linha sucessória no Distrito federal.

De fato, a Lei Orgânica do Distrito Federal estabelece, em seu Artigo 94, parágrafo único, que a linha sucessória é formada pelo Vice-Governador, seguido do Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, do Vice-Presidente daquela Casa e o Presidente do Tribunal de Justiça. Ocorre, porém, que, para alguns especialistas, essa disposição é inconstitucional, pois, segundo eles, os Estados devem estabelecer a linha sucessória de forma análoga à da esfera federal. Ou seja, o Vice-Presidente da Câmara Legislativa não teria o direito de integrá-la.

No entanto, esse entendimento constitui verdadeira afronta ao princípio do federalismo, que, em tese, dá aos Estados - e, por analogia, ao Distrito federal - autonomia para se organizarem como lhes convier. No Brasil, essa autonomia é restrita. Em muitos aspectos, as Constituições Estaduais são obrigadas a copiar literalmente os princípios da Constituição Federal, sob pena de incorrer em inconstitucionalidade. Concordo que a autonomia dos estados não deve ser absoluta, mas não permitir aos estados gerirem-se da forma como acham conveniente é uma negação do pacto federativo - que, inclusive, é cláusula pétrea da Constituição Federal.

Em minha opinião, um federalismo nos moldes dos Estados Unidos é inadequado em vários aspectos. Por exemplo, naquele País, certa atitude pode constituir crime punível com a pena de morte em determinado Estado e nem ser considerada crime em outro. Assim, certas legislações, como a penal, devem ser unificadas. Mas num país do tamanho do Brasil há importantes diferenças entre os Estados, e não é correto impor um modelo administrativo a todos eles. O correto seria a União impor uma série de normas gerais - como exigir a existência de uma Assembleia Legislativa nos Estados, restringir o poder do Governador, definir limites mínimo e máximo para o número de Deputados Estaduais, entre outras - e, daí em diante, cada Estado se organiza como lhe parecer mais conveniente, podendo, por exemplo, definir sua linha sucessória no governo, ou até mesmo extinguir a figura do Vice-Governador, se assim desejassem.

Claro que não é uma certeza o fato de que será necessário recorrer à linha sucessória. Mas, caso isso ocorra, espero que o Distrito Federal possa ter sua autonomia preservada. Em nome da Federação.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Rafinha Bastos

Voltando e tirando a poeira do blog, comento sobre o excelente espetáculo "A arte do insulto", de Rafinha Bastos.

Semana passada fui ao Teatro dos Bancários para ver esse show de "standup comedy", com o Rafinha. Fantástico!! O cara usa como instrumentos somene um microfone e sua voz, e faz a platéia rir de forma praticamente ininterrupta por uma hora.

Para quem não foi ver, eu recomendo. Veja se o espetáculo vai passar pela sua cidade nos próximos dias, e garana sua entrada o quanto antes.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ainda a carga tributária

O momento de maior indignação que tive neste ano foi quando ouvi o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, atribuindo a crise aérea a uma suposta prosperidade que o país vivia, pois, possivelmente graças ao governo, as pessoas teriam mais renda para viajar de avião.

Ainda hoje de manhã, ouvi no rádio a notícia de que a arrecadação do governo atingiu recorde este ano. Uma pessoa ligada ao governo (infelizmente não escutei o nome) deu entrevista para explicar o ocorrido. Adivinha qual foi a razão que ele apresentou para o recorde de arrecadação.

Lamento muito que os governantes insistam em enganar o povo, atribuindo problemas do país não à falta de investimento ou à excessiva carga tributária, mas a um suposto milagre econômico. São os mesmos governantes que não investirão em obras importantes para a população, alegando falta de recursos.

CPMF. Só para variar

Hoje de manhã tive o prazer de escutar o comentário do jornalista José Nêumanne Pinto na rádio Jovem Pan. Falando do tema em voga no Congresso atualmente, ele atacou a CPMF, afirmando que é um imposto ruim para o Brasil.

Nesses últimos dias tenho acompanhado o debate sobre a CPMF em toda a mídia, mas jamais havia ouvido alguma crítica ao imposto. Não é novidade para ninguém que a carga tributária brasileira é exorbitante, que o dinheiro arrecadado ou é desviado pela corrupção ou é muito mal investido, e que áreas fundamentais como saúde, educação e C&T são sistematicamente deixadas de lado. Também não é novidade que a CPMF não resolveu esses problemas, em particular os da saúde - para o qual, em tese foi criada.

Pouca gente, porém, se levanta para protestar contra um imposto que incide sobre o menor movimento da sua conta bancária, que vai engordar os cofres públicos comendo mais uma fatia da renda do cidadão - independente de sua classe social, pois o imposto é igual para pobres e ricos - e não resolve os problemas do país. E tenham certeza de que não incluo a oposição entre os que lutam contra o imposto. Afinal, foi essa mesma oposição que, quando governava, criou esse esdrúxulo imposto. Agora, posa de defensora do povo, e o PT, que na época foi contra - surpresa! - agora luta para manter o imposto, com sua alíquota atual.

Não creio ter falado alguma novidade, mas se os governos insistem em aumentar cada vez mais a carga tributária, deverão ouvir as críticas do povo.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O Primo Basílio

Soube que está próximo o lançamento do filme "O primo Basílio", película brasileira inspirada no livro homônimo de Eça de Queiroz. Já estava em tempo de a Sétima Arte se ocupar de uma das mais importantes obras da literatura lusa.

Já tive o prazer de ler o livro, e é uma obra que desnuda de forma impressionante os diversos caracteres humanos. Jorge, o bom marido, homem trabalhador, Luísa, perfeita esposa até ter sua fragilidade totalmente exposta, Basílio, o conquistador desapaixonado, e Juliana, a pessoa humilde que se agarra a uma oportunidade de subir na vida sem medir conseqüências. E creio que não me cabe falar mais do livro, ou vou estragar surpresas.

Confesso que estou curioso em ver esses personagens ganhando vida no cinema. Assim que tiver chance de ver o filme, vou comentá-lo por aqui.

A propósito, minha atual incursão literária é o Febeapá, do imortal Stanislaw Ponte Preta. Até aqui estou gostando. Depois eu conto como foi.

Governo Arruda após sete meses

Antes de escrever esta coluna, eu visitei o site do Metrô do Distrito Federal (no óbvio endereço http://www.metro.df.gov.br, a fim de confirmar a informação que eu recebera há algum tempo: que, a partir do dia 04 de agosto - um sábado - o Metrô funcionaria também nos finais de semana, no horário das 07 às 19 horas. Uma expansão de horário já demandada pelos brasilienses desde a inauguração comercial do Metrô, em 2001.

Dessa forma, vou aproveitar o gancho do novo horário para fazer um comentário geral sobre os primeiros sete meses do governo de José Roberto Arruda. Antes de mais nada, quero deixar claro que este é um blog apolítico, e que não pretendo fazer campanha a favor ou contra o governador, mas analisar friamente sua atuação.

Para chegar ao Buriti, Arruda conseguiu uma das mais impressionantes recuperações políticas da história. Ocupando o cargo de Senador, ele renunciou após ser acusado de envolvimento na violação do painel do Senado. Para retornar ao cenário político, adotou um discurso humilde: reconheceu o erro, e pediu uma nova chance ao eleitor de Brasília. Foi atendido. Candidato a deputado federal em 2002, elegeu-se com a impressionante marca de 25% dos votos - não sei se existe algum precedente semelhante na história do país.

Tendo feito um mandato de oposição ao governo Lula, Arruda não se envolveu em novos escândalos, e a nova imagem, associada à expressiva votação, o credenciaram a concorrer ao governo do Distrito Federal. Teve que enfrentar a petista Arlete Sampaio e a tucana Maria Abadia, então governadora - assumira o cargo após a renúncia de Joaquim Roriz, e recebera apoio deste nas eleições. Arruda não tomou conhecimento das adversárias: ganhou a eleição no primeiro turno.

Arruda mostrou muita coragem nos seus primeiros dias de governo. Sua primeira medida foi reduzir o número de secretarias e de cargos comissionados na estrutura do Poder Executivo. Uma medida popular, porém já clamada pela sociedade há anos. Pouco depois de tomar posse, ele ainda providenciou a demolição de vários esqueletos de obras paradas e/ou irregulares, que, além de tudo, enfeiavam a paisagem brasiliense. Outros governos não tiveram tal atitude.

Mas, é claro, seu governo vem encontrando desafios. Os transportes constituem o principal deles. As vans que circulavam irregularmente pelo Distrito Federal foram retiradas de circulação. Outra medida impopular, ainda que o governador tenha agido no estrito cumprimento da lei. Embora a retirada das vans tenha poupado os brasilienses de um meio de transporte nem sempre seguro, geraram um problema de escassez de meios de transportes e de superlotação dos ônibus existentes. E nisso reside o grande desafio do governo: substituir adequada e legalmente as vans retiradas de circulação.

Ainda na área dos transportes, é de se elogiar a atuação do governo com relação ao Metrô - e aí entra o gancho que eu coloquei no início deste texto. Desde os tempos de operação experimental que o Metrô funcionava no mesmo inadequado horário: de segunda a sexta-feira, das 06 às 20 horas. Quem estudava até tarde nos dias de semana ou tinha algum compromisso nos finais de semana ficava na mão. A primeira medida tomada foi estender o horário nos dias de semana até às 23h30, possibilitando o atendimento aos trabalhadores e estudantes do terceiro turno. E agora os trens passarão a atender também nos finais de semana, das 07 às 19 horas. Uma opção a mais para trabalhadores, estudantes, pessoas que querem visitar parentes e até para torcedores, já que há estações próximas aos dois principais estádios do DF, o Mané Garrincha e o Serejão. Mencione-se ainda o início da operação comercial da Ceilândia e a retomada das obras em futuras estações daquela cidade, além da estação 108 sul.

Finalmente, o governador Arruda terá os tradicionais desafios que todo o governo, em qualquer lugar do Brasil, encontra: tirar a educação e a saúde da caótica situação em que se encontram. Talvez seja realmente esse o maior desafio, e certamente será impossível fazer milagres. O importante é dar um mínimo de condições dignas aos usuários desses serviços públicos.

A primeira análise, de um modo geral, é positiva. Um governo com qualidades e defeitos, como qualquer outro, mas principalmente sem medo de tomar medidas benéficas à população. Veremos o que vou dizer nos próximos meses e anos.